Sombras. Noite. Escuridão. Becos. Metrópole. Gatos. Carros. Luzes. Todas elas, muitas delas. Poucas pessoas vagam entre pensamentos vagos. Chuva. Nuvens. Trovão. E assim cada elemento compõe o ar noturno, como uma peça que se encaixa perfeitamente na cena. Grama. Barro. Um cemitério um tanto quanto afastado. Quase completamente distante dos neons da cidade, semáforos e luminárias.Relampejar. Flash. Paisagem. Som. Estrondo.Vento.
Chove forte, como um golpe de esquerda inesperado de pugilista. Gotas em fúria caem sobre a cidade. Frio. Um tanto incomum para a época do ano, qualquer que fosse ela verdadeiramente. Algo de estranho na noite.
Luzes .Todas as luzes da metrópole .Vivas as luzes .
Um raio.Relâmpago.Trovão.Estrondo.Blecaute, exatamente nesta sequência .
As gotas escorrem profusas pelas frestas dos velhos mausoléus. Um vulto caminha entre as lápides, canino, quadrúpede, molhado, depressa adentra uma porta, de uma casa velha em sua própria aura, se a casa tivesse uma afinal. Um vira-latas estranho , se esgueira por uma passagem pequena na porta trancada.Anda pelo curto corredor da casa e para em frente ao velho vigia do cemitério .
"Olá velho Rupert!" .
"Olá velho cão!"
Estrondo.Escuridão.
Chuva. Vento. Tempestade. A melodia das gotas gritando contra a janela e tocando a porta. E o homem falava com o animal, que balançava os pelos molhados, espalhando água, pingando sobre o velho vigia. "Vai ser uma noite daquelas não é mesmo, amigão?"
Estrondo.Escuridão.
Chuva. Vento. Tempestade. A melodia das gotas gritando contra a janela e tocando a porta. E o homem falava com o animal, que balançava os pelos molhados, espalhando água, pingando sobre o velho vigia. "Vai ser uma noite daquelas não é mesmo, amigão?"
O animal balança o rabo e mostra a língua ofegante.E ambos continuam a conversa .
"Eles estão aqui" diz o velho cão."Estava demorando me encontrarem" responde o velho vigia.
O Vigia olha pela fresta de seu casebre."Trouxe mais pulgas para o senhor pelo visto, me desculpe" diz o cão .
O Vigia olha pela fresta de seu casebre."Trouxe mais pulgas para o senhor pelo visto, me desculpe" diz o cão .
O homem observa a janela e a chuva.Na escuridão outros cães se aproximam, pelo menos cinco deles.Uma batida monótona a porta.Sem força.Sem vida.Sem pressa.Desanimada como o dono da mão que abre a maçaneta logo em seguida, como que por mágica a porta destranca.Um estranho molhado.Pele pálida.Olhos tristes e vazios.Ele nada fala.O coração do velho vigia dispara .
"O que eu devo fazer?" Pergunta o cão vira-latas ao velho vigia."Seja o bom e velho covarde de sempre, meu amigo" e dizendo estas palavras ao cão que coçava suas pulgas.
Enquanto isso o novo visitante senta-se numa cadeira, ignorando os demais ali na sala.Tanto o cão quanto o vigia limitam-se a observar.O homem pálido tirando suas botas e seu casaco.Lentamente acende uma lamparina sobre a mesa de madeira da humilde casa.Finalmente uma voz padronizada de tão formal e desinteressante se dirige ao vigia.
"Nesta noite precisamos dos seus serviços velho, não adianta se esconder meu caro, eu posso ver os mortos e sei que está ai paradinho perto desse cão pulguento".
E o homem pálido sorri e mostra suas presas."Não me obrigue a te matar de novo e ao seu cão".
Vampiros podem ser tão simpáticos.E assim uma nova conversa ocorre em um casebre velho, dentro de um cemitério, onde o fantasma de um vigia sente seu coração morto acelerar.Fantasmas não deveriam sentir o pulsar de um sangue inexistente em suas artérias, mas essa é apenas a lembrança do medo, não é real.
Lentamente um a um dos outros cinco cães molhados entram na sala do casebre e assumem formas humanas."Ele está aqui nesta sala?" pergunta o maior dos vampiros ali presente.E com um consentimento o pálido homem sem botas procura um outro calçado seco que lhe sirva entre os pertences do vigia há muitos anos morto, vagarosa e desinteressadamente indica uma direção onde os demais apenas veem o vazio. Mas que o velho vigia e o pobre cão, sabem ser exatamente onde estão parados.
"É só perguntarem estamos entre mortos.Quando ele disser algo de útil eu aviso"
"É só perguntarem estamos entre mortos.Quando ele disser algo de útil eu aviso"
E assim ocorre uma longa noite de conversas chuvosas, onde apenas os mortos ouvem o ranger da madeira do piso e das velhas árvores ao vento .
Um cão covarde tenta fugir do lugar. Mas percebe que assim como o velho, ele também está morto.
Um cão covarde tenta fugir do lugar. Mas percebe que assim como o velho, ele também está morto.
Autor:Pablo Frazão.
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